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Por que evitar a deficiência de fósforo nos estágios iniciais do milho segunda safra

07/11/2023

Palavras chaves: fósforo, milho, segunda safra

Por: Rogério Gonzatto*, especialista agronômico da OCP Brasil


O milho segunda safra – no passado também conhecido como safrinha – representa atualmente cerca de 70% do total semeado com a cultura no Brasil. Além disso, teve um aumento de área cultivada de 120% na última década, o que ratifica a sua grande relevância no mercado nacional.

Apesar desse robusto incremento de área, não houve avanços significativos relacionados à produtividade média de grãos, que permanece perto de 5 toneladas por hectare. A reposição de nutrientes aquém da demanda da cultura pode estar entre os motivos de não ultrapassarmos esse patamar de produtividade.

Nos atuais sistemas agrícolas que cultivam híbridos com alto potencial genético, o manejo dos nutrientes impacta sensivelmente o rendimento final da cultura. De modo geral, espera-se maior resposta da adubação em solos pouco férteis ou com balanço negativo de nutrientes, fato que ocorre quando a fertilização não repõe os nutrientes exportados pelos grãos e as perdas para o ambiente.

No entanto, a pesquisa aponta que, mesmo em solos sob plantio direto e com boa fertilidade, é possível aumentar a produtividade de milho ajustando o manejo de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K).

A adubação fosfatada em milho aumentou nas últimas décadas, porém, em solos tropicais e subtropicais, altamente intemperizados e pouco corrigidos, a eficiência dela é baixa (<50%), pois parte do que é aplicado pode ser rapidamente fixado ao solo.

O aproveitamento do P da adubação aumentará se o caráter-dreno do solo for reduzido previamente por meio de fosfatagem corretiva, que pode ser realizada com a aplicação de fontes fosfatadas de menor custo (por exemplo, o fosfato natural reativo), ou gradual, quando ao longo dos cultivos as doses de fertilizante fosfatado são maiores do que o mínimo requerido pelas culturas.

Ao contrário do que ocorre no solo, a elevada mobilidade do P na planta faz com que cerca de 78% do que é absorvido seja “translocado” para os grãos, sendo assim exportado para fora do sistema solo-planta. Caso o P exportado com os grãos não seja reposto nas próximas adubações, seus níveis serão gradualmente exauridos do sistema.

Para entregar bons rendimentos, o milho precisa do fósforo desde o início do seu ciclo, apesar dos pequenos volumes requeridos nas fases iniciais. Esse P absorvido nas primeiras 3 semanas de desenvolvimento acumula-se em formas inorgânicas nos tecidos da planta, mas, devido à sua alta mobilidade nos vasos do floema, será redirecionado para os grãos nos estágios subsequentes.

Por esse motivo, sérias limitações na disponibilidade de P nos estágios vegetativos podem resultar em restrições no desenvolvimento da cultura, dificultando uma recuperação posterior, mesmo que o suprimento de P seja restabelecido.

A falta de P nos estágios iniciais de desenvolvimento afeta o fornecimento de carbono, via fotossíntese, limitando a taxa de emissão e o crescimento das folhas. Com menor área foliar, há redução na captação da radiação solar, produção de carboidratos, emergência de raízes e, consequentemente, déficit na absorção de água e nutrientes.

A demanda por P intensifica-se após o estágio V6 e se estende por todo o ciclo. De modo geral, cerca de 50% do nutriente é absorvido até o estágio de florescimento, sendo que a partir do enchimento de grãos o que foi armazenado nos tecidos de folhas, colmo e palha da espiga começa a ser remobilizado para os grãos.

O adequado suprimento de P para o milho vai além das suas reservas acumuladas em seus tecidos nos estágios iniciais de desenvolvimento. É crucial que, a partir do início da formação dos grãos, o solo (ou a adubação) seja capaz de suprir o P necessário para completar o enchimento dos grãos, repondo o P remobilizado dos tecidos para os grãos e o P consumido no processo de translocação. Caso isso não ocorra, a planta mostrará sinais de deficiência e redução de potencial produtivo.

Portanto, o bom manejo de fósforo em milho deve considerar quando, onde e como a planta utilizará esse nutriente fundamental.

*Graduado em agronomia, mestre e doutor em ciência do solo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)