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Erosão do solo: um tema mais que atual

24/07/2024

Palavras chaves: agronomia, solo, erosão, sustentabilidade

Por: Rogério Gonzatto*, especialista agronômico da OCP Brasil


A história mostra que diversas comunidades agrícolas pujantes desapareceram. Entre os fatores que levaram a esse fim, está a erosão, que causou a degradação de solos profundos e férteis.

De fato, a preocupação com a degradação dos solos causada pela erosão não é recente. Porém, o que chama a atenção é a frequente necessidade de revisitar a gravidade desse problema com a finalidade de evitá-lo.

O crescimento populacional, aliado ao aumento do consumo per capita, eleva diretamente a demanda mundial por alimentos. Para atender essa demanda, intensificou-se a exploração das áreas de cultivo já existentes, além da expansão sobre outras que antes eram consideradas marginais para produção agrícola.

Não é por acaso a preocupação da comunidade científica em demonstrar ao mundo a importância de medir, entender e mitigar os impactos da ação do homem, com a finalidade de conter processos erosivos que degradam os solos.

Em uma de suas ações de conscientização, em 2019 a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) promoveu um simpósio global sobre erosão do solo, com o objetivo de apresentar metodologias de prevenção e controle desse problema.

Apesar das limitações dos métodos utilizados para medir/estimar a erosão, é ponto pacífico que um grande volume de solo, água e nutrientes são perdidos pelo processo de erosão (Parson, 2019).

Em escala mundial, estima-se perdas anuais por erosão hídrica entre 25 e 40 bilhões de toneladas de solo, 23 a 42 milhões de toneladas de nitrogênio e 15 a 26 milhões de toneladas de fósforo (FAO 2015). Além disso, Pimentel et al. (1995) estimou que o custo global anual das perdas de solo, por erosão, era de US$ 7 bilhões.

Diante desse cenário, é imperativo aprofundar a discussão sobre o tema, buscando compreender possíveis impactos sobre o ecossistema e encontrar formas de evitá-lo.

De modo geral, a erosão do solo pode ser definida como o balanço líquido dos processos naturais e/ou antrópicos, que ocorrem em longo prazo desagregando e removendo solo do seu local original de formação (Lupia-Palmieri, 2004).

Além da divisão clássica da erosão em geológica/natural e acelerada/antrópica, ela pode ser dividida em função de seu agente causal: hídrica (causada pela água), eólica (causada pelo vento) e de cultivo (causada pelas práticas agrícolas possivelmente inadequadas) (FAO 2019).

Em regiões de clima tropical e subtropical, como o Brasil, onde usualmente as chuvas são intensas e concentradas em alguns meses do ano, a erosão hídrica é a mais relevante (Guerra et al., 2014).

A erosão hídrica manifesta-se basicamente em três etapas: 

(1) Desagregação da massa de partículas sólidas do solo pelas gotas de água da chuva
(2) Transporte das partículas desagregadas das cotas maiores para as menores, por salpicamento, arraste, rolamento e flutuação
(3) Deposição das partículas transportadas nos terrenos localizados nas cotas inferiores.

À medida que a capacidade da água em arrastar a massa de solo aumenta, a erosão hídrica pode ser dividida em três fases, visto que ao mudar de fase altera-se a forma de escoamento preferencial:

(1) Erosão laminar/entre sulcos (fluxo difuso, no qual o solo é removido de modo uniforme)
(2) Erosão em sulcos (aumenta a tensão de cisalhamento com o fluxo laminar concentrado em pequenos canais do terreno)
(3) Erosão em voçorocas (escoamento concentrado da enxurrada, cortando profundamente o solo).


Figura 1. Etapas do processo de erosão hídrica do solo: (a) gota de água
com força cinética cai em direção à superfície do solo; (b) salpico
resultante da queda quando a gota atinge o solo úmido e descoberto.
O impacto das gotas desintegra os agregados do solo, favorecendo
a erosão laminar. A gota de chuva desagrega as partículas do solo,
que são depois transportadas e, finalmente, depositadas em locais
abaixo da vertente (c). Fonte: Brady & Weil (2013)

No campo, percebe-se com maior facilidade a ação do processo erosivo quando ele atinge a fase de erosão em sulco.

Bryan & Rockwell (1998) confirmaram que a taxa de erosão do solo é potencializada após o início da formação dos sulcos. Quando o fluxo de escoamento de água desloca-se no sentido do declive do terreno, seguindo os sulcos deixados pelas operações de semeadura e/ou preparo do solo, sua ação se evidencia de forma mais severa e menos reversível.


Figura 2. Erosão em sulco observada após chuva de 70 mm em área
com cobertura de aveia-preta em Cachoeira do Sul (RS), em agosto de 2023

A erosão do solo, potencializada pela agricultura intensiva, monocultivo, pastejo excessivo, atividades industriais e expansão urbana, poderá reduzir em até 50% a produtividade das culturas até 2050 (FAO, 2019).

Isso faz com que a erosão seja um problema global, pelo fato de colocar em risco a segurança alimentar da população e o funcionamento natural dos ecossistemas.

Práticas de manejo conservacionistas podem ser utilizadas para evitar a erosão. Confira as principais:

- Proteger o solo do impacto das gotas da chuva com palha e/ou plantas
- Aumentar a estabilidade de agregados, por meio do incremento nos teores de matéria orgânica
- Maximizar a taxa de infiltração de água no solo pelo alívio da compactação do solo;
- Controlar o volume e a velocidade do escoamento superficial, fazendo uso de barreiras físicas como terraços e do cultivo em nível.

O Grupo OCP, maior produtor mundial de fertilizantes fosfatados, está na vanguarda das pesquisas para maximizar a eficiência de uso de nutrientes pelas plantas. Assim, segue comprometido não apenas em fertilizar adequadamente os solos para a produção de alimentos, mas também dedica esforços para preservar os recursos naturais para as gerações futuras. 

Fontes consultadas:

Brady, N. C.; Weil, R. R. Elementos da natureza e propriedades dos solos. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. 704p.
Bryan, R. B.; Rockwell, D. L. Water table control on rill and implications for erosional response. Geomorphology, 23:151-169, 1998.
FAO & ITPS. Status of the World’s Soil Resources (Main Report). FAO. Rome, 608p. 2015.
FAO. Soil erosion: the greatest challenge to sustainable soil management. Rome. 100 pp. 2019.
Guerra, A. J. T. et al. Soil Erosion and Conservation in Brazil. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ. vol. 37-1, p.81-91, 2014.
Palmieri, A. et al. Reservoir conservation: the RESCON approach. Washington, D.C., World Bank. 2003.
Parsons, A. J. How reliable are our methods for estimating soil erosion by water?. Science of the Total Environment. 676:215-221, 2019.
Pimentel, D. et al. Environmental and economic costs of soil erosion and conservation benefits. Science. 267:1117-1123, 1995.

*Graduado em agronomia, mestre e doutor em ciência do solo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)